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quinta-feira, agosto 05, 2010

PAÍSES DO BRIC: CHINA, POR EMMANUEL GAVACHE








Chefe de Estado: Hu Jintao
Primeiro Ministro: Wen Jiabao
Capital : Pequim
Superficie : 9 584 000 km2
População (hab.) : 1 320,6 milhões
Densidade Demográfica: 137 hab./km2
Crescimento (2007-FMI) : 11,5 %
Desemprego (2007-CIA) : 4 % em área urbana, superior à rural
Moeda : renminbi yuan (0,0917460 €)


A economia chinesa, após um formidável desempenho,reduziu sua marcha ao fim de 2007, depois de um ano onde as taxas de crescimento se aproximaram dos 11,5%.
A crise dos créditos hipotecados à risco (subprimes) nos EUA, a alta do preço do petróleo e a turbulência que atravessava o mercado financeiro mundial são fatores que impactaram sobre uma máquina econômica onde as fragilidades são numerosas, possivelmente como consequência de produzir tudo e da integração crescente no mercado mundial : o retorno da inflação e a “bolha” financeira são sinais luminosos que não podem ser ignorados.
Mas é necessário muito mais que isso para frear o mastodonte, transformado na segunda economia do mundo, se calculado o PIB em paridade com o poder de compra. A entrada de fluxos de moeda não mostra sinais de diminuição. Os investimentos diretos externos, de novo em fase ascendente, atingiram 62 bilhões de euros para os onze primeiros meses de 2007, fora os investimentos financeiros, contra 70 em 2006.

As autoridades chinesas querem privilegiar a qualidade neste domínio :o ministério do planejamento publicou um novo guia de investimentos estrangeiros, encorajando as empresas não-chinesas a escolher os setores de alta tecnologia e os serviços délocalisés (outsourcing) às indústrias extrativas ou com alto consumo de energia , apontou a Missão Econômica de Pequim. As orientações para as indústrias exportadoras são submetidas a um rígido controle, de maneira a limitar uma progressão das exportações.
Porque elas são robustas : o excedente comercial chinês atingiu 239 bilhões de euros nos onze meses de 2007. Ele havia terminado o ano de 2006 em 126,3 bilhões de euros. Os excedentes comerciais com a Europa e os EUA, que haviam literalmente explodido em 2005, continuaram se estabilizando em 2007. A contração do déficit chinês em relação à Ásia- principalmente Coréia do Sul e Taiwan, vitímas também de "délocalisations vers la Chine". Naquele ano houve uma contribuição significativa ao reforço da posição excedente da China, embora aumentando as importações de energia.
Em consequência, a China acumula reservas de câmbio mais de 1019 bilhões de euros no fim de Outubro, considerando os 136 bilhões de euros pertencentes ao CIC (China Investment Corporation), o novo fundo soberano lançado no fim de Setembro de 2007.
Em Maio, a China havia lançado um balão de ensaio – 2 bilhões de euros para uma parte no fundo de investimento americano Blackstone – julgado um pouco agressivo pelos ocidentais.
O CIC terá um papel estabilizador dentro de uma economia mundial maltratada pela crise das subprimes assegurou seu presidente. È assim que ele nos faz interpretar a participação do CIC na altura de 10% do capital de Morgan Stanley, em Dezembro do mesmo ano?
Convidadas à investir no exterior, as sociedades chinesas não tardaram na resposta: em Novembro, Ping An adquiriu 4,1% da seguradora belga Fortis. Huawei, equipamentos para telecoms, esta em vias de comprar a 3Com, ao lado do fundo americano Bain Capital, num projeto que suscita resistências nos EUA.
Investir no estrangeiro permite à China aliviar as pressões na sua economia, causadas pela superabundância de liquidez. Não ligado ao dólar, o yuan é todavia apreciado em 5%, numa associação à moeda americana , desde 2007. Sua revalorização é um ponto de fixação para americanos e europeus, que apontaram o dedo à China sobre isso no G7 de Outubro. Mas Pequim teme todas as mudanças bruscas que desestabilizem seu sistema financeiro.
Malgrado o aumento durante 8 vezes , pelo banco central chinês, da parte obrigatória de reserva dos bancos, a superliquidez fortalece o aquecimento da economia.Os bancos ultrapassaram o limite de 15% que lhes havia sido feito pelo crescimento de créditos, alimentando os investimentos produtivos, sempre mais elevados nas cidades, notadamente no setor imobiliário. Os preços por metro quadrado continuam subindo em numerosas cidades chinesas, mesmo se Shanghai confirma uma baixa.

A poupança chinesa também deslocou-se para vias de investimentos mais lucrativos – e bem mais perigosos- a Bolsa. Depois de 130% de alta em 2006, o índex composto de Shanghai conheceu uma progressão de duas cifras em 2007. Malgrado os violentos golpes : em fevereiro um mini-crack em Shanghai provocou impacto no resto do mundo, sinal da entrada em cena de uma nova e importante Bolsa no mundo do capital de ações.
A crise de subprimes também deprimiu as ações A (àquelas que são cotadas em Shanghai e acessíveis unicamente aos chineses). Em Outubro, o índex atingiu um novo record de alta, antes de declinar 20% em Novembro.
Depois dos bancos em 2006, ocorre a introdução na Bolsa dos gigantes da energia (Petrochina), que « dopa » as cotações. Os economistas estimam o efeito de riqueza beneficiando o consumo interno, notadamente os produtos de luxo. Mas expõe a classe média emergente à um regresso de matiz doloroso- potencialmente desestabilizante para o poder em curso.
A inflação se acelerou em 2007- em novembro ela atingiu 6,9% - a mais alta dos últimos dez anos. Os preços da alimentação elevaram até 30% para os legumes e 56% para a carne de porco. Mesmo que as autoridades tenham anunciado uma inflação máxima de 3% em 2007, ela atingiu 4,6%, contra 1,5% em 2006.
Um déficit para o governo, a despeito da alta dos rendimentos nas cidades e no campo. As tensões sociais estão vivas na China e preocupam um partido comunista que tira sua legitimidade da capacidade de fazer crescer a economia.
Uma nova lei sobre o contrato de trabalho foi aplicada a partir de Janeiro de 2008, restringindo certos abusos, fazendo com que as usinas preocupem-se com o recrutamento da mão de obra à bom preço, aumentando seus custos. O recrutamento nas universidades progride bem mais depressa que a criação de empregos qualificados, e um grande número dos 5 milhões de jovens diplomados em 2007 não encontraram trabalho ou aceitaram empregos menos qualificados.
No campo, porém também nas cidades, terras e casas/apartamentos são adquiridos por predadores privados, em acordo com os poderes locais. Mas as resistências são mais e mais presentes, como ilustrou em março de 2007 o combate de um casal de Chongqing, defendendo até o fim sua propriedade- a casa "tête de clou", como foi designada pela imprensa chinesa, normalmente muito discreta sobre esse gênero de acontecimentos.

O ano de 2007 foi também o ano do 17e Congresso do Partido Comunista e Hu Jintao, sem surpresas, consolidou seu poder fazendo progredir o sucesso às custas da “banda de Shanghai”, leal à seu predecessor. Dois herdeiros potenciais surgiram: Xi Jinping e Li Keqiang, que acederam ao todo-poderoso comitê permanente do partido, composto de nove membros.

Através dos JO de Pequim em 2008, a equipe dirigente, buscando « uma sociedade harmoniosa » procurou minimizar os riscos diante do Ocidente. Portanto em 2007 ocorreu um acentuamento da repressão, notadamente ao encontro do movimento de direitos cívicos: como exemplo, os “advogados de pés nus” são aprisionados ( o advogado Cheng Guangcheng), ou detidos em sua residência (o militante Hu Jia).
A idéia de um boicote aos JO atingiu o ápice em março de 2008, quando o governo chinês reprimiu com sangue uma série de manifestações de tibetanos em Lhassa, ocasionando uma centena de mortes. Em detrimento da « via moderna » desenvolvida pelo chefe espiritual, que cessou de reinvindicar independência em prol de uma simples autonomia.Os manifestantes tibetanos quiseram aproveitar a proximidade dos Jogos para denunciar um genocídio cultural, do qual se julgam vítimas desde 50 anos, buscando obter dos democratas ocidentais uma condenação clara da ocupação chinesa.

No estrangeiro, o dossiê ambiental irrita tanto quanto o das liberdades. A China tornou-se em 2007 o primeiro emissor de gases que prejudicam o planeta. As crises ecológicas se multiplicam – em maio de 2007, a destruição do ecossistema do Lago Taihu, perto de Wuxi, privou dois milhões de pessoas de água corrente.

Em ecologia, como na economia, a China...satura.

EMMANUEL GAVACHE