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sábado, dezembro 18, 2010

WIKILEAKS AND JULIAN ASSANGE: HERÓI OU BANDIDO?





Neste mundo cada vez mais complexo, ambivalente e notavelmente repleto de controvérsias, torna-se difícil identificar claramente quem são os bandidos e quem são os mocinhos  de uma história como esta. Ou se ambos são os mocinhos, ou o contrário. Ou se os papéis alternam-se conforme interesses “top top secret”. Ou se não há mocinhos nem bandidos e trata-se simplesmente de uma filmagem hiper-realista do novíssimo filme de Spielberg , Cameron ou Eastwood. Tudo irá depender do final na identificação do Diretor.
Possivelmente sejamos os culpados dessa indecisão existencial. Jonh Wayne nunca faria tantas perguntas a si mesmo, ele atiraria nos índios e dormiria feliz, por Deus, pela Pátria e pela Coca-Cola ( by the way, a empresa não está pagando pelo comercial gratuito). No entanto, Wayne morreu, embora atualmente tenha sido substituído por “The Jester”, o misterioso e “patriótico” hacker que pirateou o Wikileaks, segundo ele, realizando um trabalho pelas forças do bem contra os inimigos dos Estados Unidos. Mesmo assim, com ou sem bufões, o mundo mudou, nós mudamos.Fizemos muita psicanálise, lemos demasiados livros contando mentiras que iludiram verdades, assistimos cenas atrás dos bastidores. Aprendemos a duvidar. Felizmente.
Assim qual  é a história, oficial, extra-oficial e nada-oficial, ou seja, àquela que ocorreu, mas jamais será confirmada?
Até algumas semanas atrás, poucas pessoas conheciam o nome de Julian Assange. Porém a liberação de 250 mil documentos diplomáticos dos Estados Unidos pelo site Wikileaks, bem como logo após a prisão do seu fundador sob acusação de estupro, tornou o ativista australiano uma celebridade mundial. Inclusive capa-destaque da revista Rolling Stone, sem jamais ter sido músico de qualquer natureza.
Surgem as primeiras perguntas: o natural candidato à mocinho teria o físico clássico, ousadia e coragem, mas não seria políticamente correto? Os partidos se polarizam: existem àqueles que  classificam Assange como terrorista cibernético, uma nova modalidade de “bicho-papão”, depois dos comunistas que devoravam  criancinhas desobedientes. Porém do outro lado, em contrapartida, existem àqueles que fazem o mesmo dito terrorismo cibernético para defendê-lo,  apelidando o rapaz de “Che”. Exageros de um lado, exageros de outro.
Na quinta-feira passada, 16/12, Julian saiu da prisão  em Londres , onde havia permanecido durante nove dias, acusado de estupro por duas mulheres suecas. Nesse caso, o assim chamado estupro(denominado no processo, em francês, “sexe par surprise”) relacionou-se ao fato dele não utilizar, (negando-se ao uso, mesmo considerando as brasileiríssimas de sabores variados, como morango ou chocolate), camisinha durante a relação sexual. Embora a Suécia seja um país considerado bastante liberal no que se refere às práticas sexuais e outros bichos mais, aconselho que antes de qualquer investida mais “calorosa” , seja feita uma leitura detalhada do assunto na legislação vigente. Facilmente podem ocorrer processos e não apenas pelo não-uso de proteção (no caso específico, não-consensual).  Afinal, com esse “sexe par surprise”, nunca se sabe. No dia seguinte a surpresa pode ser bem desagradável para um dos lados.O fato da prisão ocorrer logo após  a divulgação dos documentos comprometedores, e inicialmente tratar-se apenas de um complemento de informações , confirmado pela Interpol, trouxe uma palavra à tona: conspiração.
Dessa forma começaram os rounds da luta que está sendo denominada: L’Empire X Les Barbares Du Net.Nos dias seguintes, um movimento internacional de hackers declarou aberta a Operation Payback (Operação Revanche), para vingar o que consideram perseguição ao homem que está revelando os segredos dos governos mundiais. O grupo atacou sites e serviços dos cartões de crédito Visa e Mastercard, além de bancos e outros fornecedores que romperam contratos com o WikiLeaks após o resultado das suas revelações.
Aqui torna-se muito importante e fator de aprendizagem organizacional, o comentário de que,muitas vezes, as empresas não tem visão estratégica sequer de curto prazo, perdendo excelentes oportunidades de, por exemplo, não fazer absolutamente nada. Esta guerra não era delas e sim dos governos. Demonstrar aberta e rapidamente tanta “lealdade”, ainda mais quando estamos falando de documentos que comprovam mortes ilegais, compromete de forma inequívoca estas corporações mediante o público, bastante mais forte do que qualquer documento que o Wikileaks pudesse apresentar.
Estaria faltando  Assessoria de Inteligência Estratégica para Visa e Mastercard, citando apenas estes dois como exemplo?
Talvez. Ou realmente os compromissos com os órgãos públicos eram muito grandes e exigiram imediata tomada de ação. No entanto, não há duvidas de que estas corporações irão precisar de uma grande recuperação de imagem junto à população em geral. Em época de conquista dos clientes mais jovens, ainda bastante idealistas, “degolar” seu novo ídolo não foi a melhor política comercial.
Para ilustrar este ponto de vista, até o presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou mais “jogo de cintura”, saindo em defesa do “rapaz” que “desnuda a diplomacia”. No mesmo dia, o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, (vejam só, ex-chefe da KGB russa), também defendeu Assange. No Twitter, o nome de Assange ultrapassou  o astro teen Justin Bieber – segundo a ferramenta Trendistic.
Livre da prisão, mas sob sério risco de ser extraditado para a Suécia e até para os EUA, solução bastante arriscada para ele, Assange espera seu futuro numa mansão de dez quartos no interior do Reino Unido – oferecimento de um apoiador anônimo.
Foi também esta legião de admiradores, como o cineasta americano Michael Moore, que pagou sua fiança, equivalente â R$ 640 mil. Na Alemanha, uma ONG está vendendo camisetas retratando Assange como Che. Enquanto isso,  nos EUA, o líder da oposição republicana no Senado pediu a cabeça de Assange, dizendo que ele é um “terrorista de alta tecnologia”. Tenho dúvidas  de que o senador saiba exatamente o que isso queira dizer, pois se soubesse teria cuidado com a terminologia, uma vez que seu país sempre sustentou a idéia do uso tecnológico “em defesa de outros povos” . Não seria também uma espécie de terrorismo? Ah. mas permitido oficialmente e com transmissão direta pela CNN.
A sociedade parece ter chegado à conclusão de que existe um mocinho, e sobre quem estaria no papel. Nesse caso o Estado necessita dar-se conta, com urgência, de que repressão somente irá gerar mais revolta e aumentar a idolatria de Assange. Davi contra Golias, alguém torceria por Golias???
A guerra de imagens e razões está perdida. Nenhuma acusação suspeita de estupro pode afetar cenas incompreensíveis presenciadas no vídeo Assassinato Colateral, disponível no You Tube, sobre execuções realizadas no Irã. Nenhum ser humano pode ver isso e acreditar em quebra da segurança nacional ou de sigilo diplomático.
Nenhum ser humano pode ver isso sem pensar em bandidos e mocinhos.
Inteligência, muitas vezes, é aprender a recuar, “Uncle Sam”. Nossa eterna cegueira morreu junto com Saramago e certamente, agora e sempre, nosso livro de cabeceira chama-se:
ENSAIO SOBRE A LUCIDEZ
Antes tarde do que nunca.



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