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segunda-feira, novembro 29, 2010

OS DONOS DA GUERRA, por Angela Pieruccini






Possivelmente o Rio de Janeiro nesse momento simbolize uma das maiores feridas abertas do nosso país: os resultados da corrupção em todos os níveis, incluindo os mais altos escalões do governo, assim como um comportamento recorrente da sociedade civil brasileira: ora passiva e sem memória diante dos fatos, ora ingênua e sem crítica diante de imagens abertamente sensacionalistas. Falta apenas cantar o Hino Nacional antes de subir o morro, fazendo justiça entre balas de fuzil e aplausos comovidos da mídia. Protegida, evidentemente.
Assim nascem os heróis. O Governador Sérgio Cabral e o BOPE, tropa de elite da polícia carioca. Esses seriam os “mocinhos”. Os “bandidos”? Traficantes de drogas residentes nas favelas, geralmente pobres, normalmente negros (essa palavra é proibida?), ou seja, somente a ponta do iceberg.
Violentos? Os dois lados, não há mocinhos e bandidos numa Guerra Civil. Existe apenas terror e morte. Isso tornou-se absolutamente necessário? Não sei, contudo o exercício de pensar não é um exercício desprezível, bastando um pouco, somente um pouco de reflexão.
Quem seriam de fato os mocinhos e os bandidos, uma vez que até ontem as armas dos traficantes eram fornecidas pela própria polícia e inclusive pelo exército? Estatisticamente está comprovado: 90% das armas usadas no narcotráfico são nacionais. Não está óbvio qual é a sua origem? Assim como a mesma obviedade garante que isso estava reconhecido pelas devidas autoridades, normalmente responsáveis pela segurança da população e não o contrário. Delegados, Políticos, Secretários de Segurança, Prefeitos, Governadores. Ainda mais alto? Quem sabe.
Seguindo na linha de raciocínio, onde estão as prisões dos verdadeiros líderes do crime organizado? Estes nunca estiveram dentro do Morro do Alemão ou no Vidigal, ainda menos em Bangu I, II, III...ad infinitum. Ah, não. Coberturas no Leblon ou Ipanema, Mansões no Lago Sul de Brasília, talvez Estados Unidos da América. O mundo não tem fronteiras quando o colarinho é branco e a fortuna imensa, embora manchada de sangue. Para estes também vai ser apontado o fuzil, enquanto eles rezam o último pai-nosso? E os vereadores, deputados e senadores, ou seja, os membros do legislativo financiados pelo Elias Maluco ou Fernandinho Beira-Mar, cada qual a seu tempo? Não estou presenciando esta sequência post-mortem televisionada, verdadeiro indício de mudanças.
Se tudo fosse absurdamente simples de ser solucionado, como mostrado em menos de uma semana, o que estiveram fazendo nossos governantes, inclusive o último, mantendo toda uma população em estado de terror permanente, sofrendo tortura e assassinato de inocentes dia após dia, ano após ano? Se tudo fosse absurdamente simples, ninguém merecia aplausos, e sim no mínimo tornar-se inelegíveis, pelo tempo onde nada fizeram, pelos interesses ocultos na situação, pelas vidas humanas desperdiçadas. Porque até então, não era conveniente a solução.
De repente, e de forma estranha logo após uma eleição presidencial, tudo tornou-se absurdamente simples. E minha sensação é de estar num circo mambembe, fazendo parte de um espetáculo de quinta categoria. No papel de palhaço. Mas um palhaço de sorriso amargo, que deixa um fio de lágrimas borrar toda a maquiagem. Pensando no jornalista brutalmente assassinado porque foi “impossível” achar seu cativeiro naquele momento, Agora parecem achar até o que nunca existiu. Pensando nas balas perdidas ceifando gente e mais gente, enquanto estes mesmos governantes gritavam nos jornais que não havia soluções. Agora havia soluções. Pensando nos chefes do Comando Vermelho, Terceiro Comando, etc...liderando “arrastões” desde o interior dos presídios. Com a conivência de todos, se piscar, até de Jesus Cristo e os Apóstolos.
O sistema sempre alimentou esta guerra, pois as mesmas autoridades agora posando para fotos cinematográficas, sempre puderam fazer o que agora foi feito. Se isso ocorreu, o próprio sistema assim decretou. Mas com limites, nada de subir até onde estão os verdadeiros mandantes, os verdadeiros milionários da droga. Basta a favela, as câmarasde tv e um batalhão saído dos filmes de “Rambo, Programado Para Matar”. Chega para o povo e para os turistas que necessitam vir na Copa e nas Olímpiadas.
Contudo, agora é nossa responsabilidade fazer subir, tornar o teatro uma peça real. Senão a tendência será uma “falsa”paz por um período breve de tempo, até tudo recomeçar. Quando a raiz não é cortada, todas as árvores renascem. Em maior ou menor tempo.
É nossa responsabilidade tirar o dominó de palhaço. Pode ser que assim, finalmente, sejamos respeitados.

Kesselman.avi