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domingo, dezembro 19, 2010

RELACIONAMENTOS INTERPESSOAIS E AS ETAPAS DO GRUPO: A TEORIA DE WILL SCHUTZ

Will Schutz, ao longo de quase 30 anos, desenvolveu uma abordagem do desenvolvimento do ser humano considerando três dimensões do comportamento: Inclusão, Controle e Abertura:

1 Inclusão

Relaciona-se com associação, ou melhor, pessoas estarem cercadas de pessoas. É a necessidade de obter a atenção dos outros, interagir, de pertencer, de ser único. Ser único significa que o outro está interessado ‘em mim’ o suficiente para descobrir quem sou eu. Inclusão relaciona-se com a preocupação em ser proeminente (estar em destaque no sentido de ser importante, mais do que dominação).

Por exemplo, de um lado existem pessoas do tipo animado, que gostam de festas, de fazer atividades em grupo, de iniciar conversas com estranhos. Por outro lado existem pessoas que preferem ficar sozinhas, são mais reservadas, raramente começam conversas e evitam festas.
Inclusão envolve a quantidade de interação que duas pessoas querem ter entre si, assim como a decisão no que se refere à manutenção ou não desse contato.

Em relação ao grupo, a fase de inclusão começa com a formação do mesmo. A primeira decisão é se a pessoa deseja fazer parte, se quer estar fora ou dentro, sentir se estão prestando atenção nela ou se esta fora e sendo ignorada (Quem me inclui, me chama para estar no grupo?). E se é importante neste grupo.
Convém ressaltar que se ela ficarr muito ansiosa a respeito disso, pode começar por falar demais, se omitir ou se exibir.
O comportamento em relação à inclusão é em função de dois aspectos: o racional e o defensivo
O racional representa uma preferência para ter contato com pessoas. O defensivo representa a ansiedade em relação à inclusão. O racional é flexível e pode se adaptar à situação – evento. O defensivo é rígido – isto é, ele não varia conforme situação / evento e resulta em comportamentos inadequados.
Somos uma mistura do racional e do defensivo, dependendo de como nos sentimos em relação a nós mesmos, isto é, quanto maior nossa auto-estima e autoconhecimento, mais facilmente o lado racional poderá assumir.
Partindo, então desses pressupostos, podemos apresentar três tipos de ’pessoas’:
1. Pessoa Subsocial – Tem medo de ser ignorada, não se arriscando em consequência desse medo. Prefere ficar só. Tem baixa inclusão.
2. Pessoa Supersocial – Também tem medo de ser ignorada, porém adota um comportamento oposto ao subsocial – Apesar de ninguém estar interessado nela, vai forçar os outros a prestar atenção em si de alguma maneira..
3. Pessoa Social – É a pessoa que sente-se bem em grupo, assim como quando esta sozinha.

2 Controle

Controle refere-se à relação de poder, influência e autoridade entre as pessoas. Relaciona-se à obtenção da quantidade de controle que a pessoa exerce. Há pessoas que gostam de liderar, dar ordens e tomar decisões. Outros não gostam, procurando assumir posições em que não tenham responsabilidades.
Em um debate, se a pessoa busca controle, quer dominar, ser a vencedora ou pelo menos estar do lado vencedor.
Se a pessoa é forçada a escolher, aquele que busca inclusão prefere ser um participante que perde ou fica com quem perdeu, aquele que busca controle prefere ser um vencedor solitário.
Dessa maneira, podemos dizer que comportamentos de controle não requerem proeminência, e comportamentos de inclusão não requerem dominância.
Comportamentos de controle podem ser manifestados por meio de uma resistência da pessoa em ser controlada. Expressões de independência e rebelião (revolta) indicam resistência. Complacência, submissão e facilidade em obedecer indicam aceitação quanto a ser controlado.
Nós podemos controlar e sermos controlados. Nós podemos preferir controlar a sermos controlados. Nós podemos preferir uma estrutura de poder na qual ninguém dá ordem para ninguém. Nós podemos preferir seguir ordens e sermos relutantes em dar ordens.
As questões de controle estão relacionadas com o grau de confrontação na relação. As típicas interações no contexto de controle envolvem confrontação ou evitação do confronto.
Algumas vezes, um colaborador prefere ser o “poder por trás do trono” satisfazendo simultaneamente a necessidade de controle e baixa inclusão, outra situação é o do bobo da corte, que satisfaz sua necessidade de alta inclusão e baixo controle.
Podemos notar que problemas de controle surgem após o grupo compor-se e as afinidades começarem a ser desenvolvidas. Nesta etapa as principais demandas no grupo passam a ser luta pelo poder, competição (pela liderança, métodos do processo de tomadas de decisão, distribuição do poder), busca ou assunção de diferentes papéis (líder, ajudador, animador, conciliador, opositor). As preocupações são em relação a ter muita ou pouca responsabilidade. O objetivo de cada membro é ter tanto poder e influência até atingir o seu nível de conforto. A pessoa procura situar-se entre um estado de impotência ao de estar sobrecarregado de responsabilidade.
Will Schutz é incisivo nas suas afirmações quando coloca que a parte racional tem preferência por um certo controle da própria vida, a defensiva tem origem no medo de ser fraco (não poder sustentar-se – ajudar a si mesmo) ou de ficar sobrecarregado com responsabilidades. A parte racional é flexível e pode adaptar-se à situação, a defensiva é rígida, indiferentemente as circunstâncias. Quanto maior é o autoconceito e auto-estima, mais o comportamento é racional e não defensivo.

Levando em conta o controle podemos agrupar as pessoas em:
1. Pessoa Abdicrata – (Rígido em baixo controle) a pessoa abdica do seu poder. Adota uma posição subordinada, na qual os outros não esperam que ela assuma responsabilidades, tome decisões; ao contrário, ela quer que os outros aliviem suas obrigações, não controlando os demais, nem quando isto é apropriado. Quando ela é o chefe, não faz o que é necessário para corrigir aquilo que não está funcionando bem. Ela atrasa, procrastina. Ela nunca toma uma decisão que a faça subir, e a responsabilidade nunca fica com ela.
2. Pessoa Autocrata – (Rígido em alto controle) é a pessoa que domina nos extremos. Seu método direto é buscar poder e competir. Tem medo que os outros dominem e não sejam influenciados por ela.
Seu sentimento básico é o mesmo do abdicrata: Não ser capaz
Para compensar este sentimento fica tentando provar que é capaz, o que resulta em assumir muitas responsabilidades e freqüentemente se desgastar. Seu método indireto para obter controle é: ser astuto, manhoso, sedutor.
3. Pessoa democrata. Quando na infância a pessoa resolveu com sucesso as questões relacionadas ao controle, sentindo-se confortável dando ou não comandos, recebendo ou não comandos. Ela não tem medos sobre a sua estupidez ou incompetência. Sente-se competente e confia em que os outros sentem que ela pode tomar decisões.

3 Abertura.

A terceira dimensão do comportamento humano é a ‘abertura’, isto é, quanto a pessoa está disposta a ser ‘aberta’ com o outro. A abertura varia ao longo do tempo, entre os indivíduos e nos relacionamentos.
Algumas vezes, as pessoas gostam de uma relação em que possam dividir seus sentimentos, seus segredos e pensamentos íntimos e por isso necessitam alguém para seu confidente. Outros evitam abrir-se com qualquer pessoa. Preferem manter relações mais impessoais, tendo conhecidos em vez de amigos próximos, ou seja, as pessoas manifestam tanto desejo de relacionamentos mais abertos como de privacidade.
A abertura é construída com base em vínculos mais profundos, portanto, usualmente é a última fase a emergir em um relacionamento entre as pessoas ou em um grupo. Com a evolução da relação, a abertura terá a ver com o quanto as pessoas vão ser transparentes umas com as outras.
Assim como na Inclusão e Controle, a Abertura tem dois aspectos: o racional e o defensivo. O racional resulta da preferência de uma certa quantidade de abertura que a pessoa quer ter. O defensivo resulta do medo de ser muito aberto e ficar vulnerável a ser rejeitado ou não amado. Quando a pessoa é flexível e racional, pode adaptar-se a diferentes situações, quando ela é rígida e defensiva, reage sempre da mesma maneira em qualquer circunstância. Cada pessoa é uma mistura do racional e do defensivo, dependendo de como ela se sente em relação a si. Quanto pior ela se vê em relação a si mesma, mais defensiva ela é.

Também neste caso podemos destacar três tipos de pessoas:

1. Pessoa impessoal. É quando a pessoa se relaciona de forma impessoal (rígida em baixa abertura, defendendo-se), ela evita revelar-se para os outros. Mantém relações superficiais, distantes e fica mais confortável quando as pessoas fazem o mesmo. Mantém uma distância emocional e não se envolve verdadeiramente. Tem medo de que ninguém goste dela, e se antecipa. Ela possui grande dificuldade de gostar genuinamente das pessoas e não acredita nos sentimentos que elas têm em relação a sua pessoa. A atitude inconsciente é: como a abertura em sua vida levou-a a ter experiências muito dolorosas, procura evitar esta dor, não se ‘abrindo’ novamente.
A técnica direta é evitar proximidade, sendo antagônico, e rejeitando, se necessário. A técnica sutil é ser superficialmente amigável com todos, procurando ter popularidade que funcione como uma proteção contra ser aberto.
2. Pessoa Super Pessoal. Quando se relaciona de forma excessivamente pessoal (rígida em alta abertura, pela defensividade) ela conta para todos seus sentimentos, e quer que todos sejam abertos com ela. O sentimento inconsciente é: a primeira experiência com ‘abertura’ foi muito dolorida, mas se tentar muitas vezes ela poderá se tornar melhor. Ser gostado é essencial, portanto a sua técnica direta é tentar obter aprovação sendo extremamente pessoal, insinuante e confidente. A técnica sutil é manipulativa, possessiva e punitiva, caso seus amigos tentem estabelecer novas amizades.
3. Pessoal. Quando se relaciona de forma pessoal (utiliza a abertura de forma adequada) e tem suas questões relacionadas com abertura bem resolvidas na infância, o seu nível de abertura com os outros é flexível. A pessoa fica confortável em uma relação próxima e também em situações que requeiram distância. A pessoa sente-se confortável dando ou recebendo afeto, gosta de ser gostada, mas se não o é, pode aceitar isso significando simplesmente que alguém não gosta dela, não generalizando e cncluindo que não é amada por ninguém.
Nestas três dimensões cada pessoa tem uma posição de conforto, isto é, escolhe um comportamento entre dois extremos: baixo ou alto / pouco ou muito. De acordo como a pessoa se comporta, se sente em relação a si mesma, essa posição de conforto tem sua fonte:
-      Na auto-inclusão (estar vivo), autodeterminação e autoconsciência. Na forma como a pessoa se comporta em relação a si mesma.
-      Na auto-importância (auto-relevância), autocompetência e amor próprio. Como a pessoa se sente em relação a si mesma.
-      No comportamento das pessoas, que nos impactam nas nossas experiências, memórias, pensamentos, valores, crenças gerando medos de ser ignorado, humilhado e rejeitado.
Ou seja, os comportamentos em relação à inclusão, controle e abertura que adotamos estão diretamente vinculados ao nosso autoconceito e auto-estima.

4. Comportamento de inclusão e os sentimentos de importância e estar vivo.

Os sentimentos que a pessoa tem em relação a si, os sentimentos que tem em relação aos outros e seus comportamento estão todos conectados. Se a pessoa sente que é importante, fica mais independente em relação aos outros. Se não, tende a pensar que os outros não vão achá-la importante, adotando comportamentos que levam as pessoas a considerá-la sem importância. Quando as pessoas a incluem, se interessam em saber quem ela é, o seu sentimento de importância cresce, assim como a sua auto-estima. Contrariamente, se a pessoa não é incluída e os outros não demonstram interesse por ela, tende a se isolar, dificultando a comunicação e o desenvolvimento de uma maior sinergia do grupo.

5. Comportamento de controle e sentimentos de competência e escolha

Subjacente ao comportamento de controle está a experiência que acompanha o sentimento de sentir-se ou não competente. Competência tem a ver com a habilidade de tomar decisões e resolver problemas. A pessoa se sente competente quando tem capacidade de enfrentar o mundo, satisfazer seus desejos, evitar catástrofes, manter um trabalho, ser auto suficiente, e adquirir bens materiais.
No momento que o indivíduo se sente competente, inteligente, forte, harmonioso é capaz de enfrentar as questões relacionadas com o viver. Quando se sente incompetente, é o oposto: sente-se fraco, impotente e incapaz de enfrentar a vida. Ele precisa de uma grande ajuda e orientação dos outros para enfrentar a vida e assim mesmo se sente inseguro.

6. Comportamento de abertura e o sentimento de ser amado.

Quando a pessoa gosta de si mesma, tem prazer na própria companhia. Sente-se bem em relação ao que é, e se os outros souberem tudo a seu respeito, vão gostar de quem é.



Quando a pessoa não gosta de si, não tem prazer em saber quem é. Tem vergonha de si ou de como se comporta e como se sente. Seus impulsos e desejos são inaceitáveis, e ela acredita que qualquer pessoa que soubesse tudo a seu respeito ficaria revoltada e poderia insultá-la. Em função do quanto ela sente que não é gostada e amada é que experimenta maior ou menor receio e medo em relação à rejeição. Dessa forma, receia que quanto mais as pessoas a conhecem, menos vão gostar dela. Mantendo uma maior distância pessoal e mantendo segredo ela se sente segura, ao menos temporariamente.

Um comentário:

  1. O conhecimento da Teoria das Fases do Grupo, de Will Schutz, é fundamental para todos que realizam trabalhos de desenvolvimento intra e intergrupal, principalmente em nível organizacional,uma vez que tais fases se manifestam, embora de formas diferentes, em todos os tipos de grupos. Sem este conhecimento,dentre outros,será impossível trabalhar o processo grupal de maneira competente e eficaz.

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